sábado, 23 de março de 2013

23'03'



 Alguns minutos ainda resta pro dia acabar, poderia ser um dia qualquer como todos os outros tem sido, mas não é. A data não me é indiferente. não tenho como afirmar pra mim que essa data é igual a todas as outras pelo simples fato de não o ser. Faz alguns anos que tento esquece-la, torna-la menos dolorosa, menos viva, mas como sempre é em vão e hoje não foi diferente. Todos os anos nessa mesma data todas as minhas lembranças vem me torturar impiedosamente, choro compulsivamente, não consigo controlar-me, as lágrimas  rolam espontâneas, presumo que esse foi o jeito que elas encontraram pra tentar me consolar. Mas apenas me aliviam. estou inconsolável. sou inconsolável! Minha mãe de alguns anos pra cá, não faz mais festas, por resistência minha... vem desistindo de tentar comemorar esse dia, só me dá presentes. e hoje também não foi diferente! me deu presentes. mais uma falida tentativa de tentar consolar-me. Alguns poucos amigos se lembraram. Mentira! pra falar a verdade só 2 amigas lembraram e fizeram questão de estar comigo, mas não pude, não pude ir! não pude deixar que minha tristeza e minha angústia pudesse estragar o dia delas, sou uma péssima companhia nesse dia. talvez em todos os outros. É nesse dia que sofro as consequências de uma angústia que se é constitutiva, assim como afirmava Heidegger. são nesses dias que inevitavelmente encontro comigo, que figo cara á cara com os comigos de mim. Não é fácil! não é nada fácil. Por isso o desespero em pular essa data. Doe-me lembrar que sou um ser pra morte, doe-me lembrar que nesse dia estou perdendo mais um ano de minha pobre vida. Existência vazia. Tenho a consciência de que nada pode preencher esse vazio. Vazio demasiado agudo. Hoje pela primeira vez percebi que não posso fugir dessa existência vazia, então comecei o dia  fazendo o que faço todos os dias: acordei, comi, escultei minhas músicas, varri a casa, lavei os pratos, banheiro, limpei toda casa, peguei um livro pra ler, fiz meu almoço, jantar e me fiz companhia de mim, suportei-me com lágrimas nos olhos. E agora no final da noite, imagino que tudo poderia ter sido diferente, que aquelas pessoas que eu achava que eu era importante pra elas e que são importantes pra mim iam me ligar, me desejar feliz aniversário, dizer o quanto eu sou importante pra elas, iam querer me ver, me abraçar.... mas sabe, acho que as pessoas mais importantes da minha morte\vida fizeram isso, minha mãe do jeito dela apenas com presentes, nem um abraço, muito menos o  feliz aniversário e a minha irmã que assim que acordou veio no meu quarto, acordou-me com um feliz aniversário e carinhosamente beijou-me a face e laçou-me nos seus braços. Não esqueço das minhas duas amigas, que não importa a distância ou o tempo que passe sempre lembram dessa data, poso afirmar que são minhas amigas de verdade, como dizem amigas de infância é pra sempre. E são, e serão. Aos poucos amigos, poucos mesmo, agradeço pela lembrança, pelo desejo, pelo carinho.  Desejo a mim mesmo que os desejos de FELIZ aniversário, fique pros outros dias do ano, pois o dia em que nasci, não tem como ser um dia feliz pra mim, por mais que eu tente, por mais que deseje, ele sempre será o dia mais triste da minha vazia existência. 



''...- o quarto, em que minha mãe dormia, domina uma parte deserta da paisagem da cidade. Através das janelas, vê-se o mar, que se dilata até perder-se de vista e se chocar contra os escombros ... Eu já estava quase morto, quando vim ao mundo ... As ondas, levantadas pela tempestade, anunciando o equinócio do outono, abafava os meus gritos. Diziam que a tristeza daquele dia jamais se apagaria da minha memória...''

Chateaubriand, -Os Grandes neuróticos da história in psicologia da vida moderna.



sábado, 9 de março de 2013